sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Liberdade tem limites

Matheus Viana

Raskolhnkov, um jovem que por ser pobre, febril e muito inteligente, acreditava ser pertencente a uma casta humana acima de toda e qualquer lei. Por isso, assassina, com uma machadinha, uma senhora que penhorava bens e sua irmã, Lisavieta.

Este relato é da ficção literária criada por Dostoievski em seu romance Crime e Castigo. No entanto, em nossa conjuntura, há pessoas, na verdade um grupo que se vê de forma semelhante. Além disso, quer ajustar a Constituição brasileira aos seus ideais e desejos. Você acertou: estou falando do movimento homossexual. Fique claro que, quando me refiro a este movimento, falo de uma militância organizada, sem qualquer tentativa de estender, de modo a generalizar, a referência a todos os homossexuais.

Não concordo com algumas – muitas delas – posturas tomadas pelo pastor evangélico e deputado federal (PSC-SP) Marco Feliciano. Contudo, ele tem sido alvo de uma catarse – longe de sofrimento ou perseguição pelo Evangelho – ostensiva. Após ser escarnecido por dois cidadãos a bordo do avião em que viajava, duas lésbicas, em um culto dirigido por ele, se levantaram perante o público e começaram a se beijar. Esta medida, segundo o movimento, não será a última.

Liberdade tem limites. Sou cidadão brasileiro, livre e casado. Mas nem por isso posso, em um restaurante, por exemplo, subir na mesa com a minha esposa e ter relação sexual com ela. Isso é algo óbvio em uma sociedade civilizada e com o mínimo senso moral. No entanto, estes atributos não existem para o movimento homossexual, que nada mais é do que desdobramento do movimento revolucionário que, segundo seu próprio manifesto: “Proclama abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente.” (Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels).

A Constituição garante liberdade de expressão. Porém, esta liberdade é complementada pela liberdade de religião. Ou seja, um templo de culto religioso, não importando de qual religião seja, deve ser respeitado de acordo com seus respectivos padrões éticos. Assim como eu não posso fazer sexo com minha esposa em um restaurante, as lésbicas, ainda que sejam livres para se expressarem, devem respeitar o espaço de culto assegurado pela Constituição.

Se um cristão entrar em uma boate gay, abrir a Bíblia e começar a lê-la em voz alta, será enxotado de forma nada cordial. Por que a recíproca deve ser tolerada? Jesus expulsou do Templo em Jerusalém os vendilhões, e disse em seguida: “Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração; mas vocês estão fazendo dela um covil de ladrões’” (Evangelho segundo Mateus 21:13). Sim, há alguns vendilhões, travestidos de pastores e fiéis, que seriam expulsos se Jesus vivesse em nossos dias. Contudo, com todo amor que Ele nutre pelas pessoas, não toleraria a atitude das duas lésbicas. Amar é uma coisa, tolerar atitudes inconvenientes é outra bem diferente. Sou professor e tenho um carinho especial pelos meus alunos. Todavia, não tolero nenhuma atitude de desrespeito, de agressão - física ou verbal - ou qualquer outro comportamento que atrapalhe a ordem praticado por um ou mais alunos. O indivíduo em questão será convidado a se retirar.

As pessoas – homo ou heterossexuais - são livres para se beijarem... em lugares propícios. Mas não. Este movimento não pleiteia por liberdade. Pleiteia pela homocracia. E, para isso, deve destruir toda liberdade que seja vista como empecilho. Conforme afirmei no texto Definindo conceitos, Liberdade é o exercício de ser e fazer mediante o conjunto de direitos e deveres; e libertinagem é a tentativa de ter apenas direitos e ser completamente desprovido de deveres.”.

Bingo. A premissa preconizada por Montesquieu: “Todo homem é livre para fazer o que a lei o permite fazer”, não é considerada. Esta, na verdade, é a última etapa do processo. Pois este movimento visa derrubar todo e qualquer fundamento de liberdade, estabelecer uma tirania - por se tratar de um núcleo com vários desdobramentos - e elaborar leis que atendam a plenitude de suas reivindicações. No entanto, o conceito de Rousseau sobre lei, que consiste no fato de que a vontade geral – consenso de todos os membros da sociedade que se torna lei a fim de atendê-los – é visto como inimigo a ser abatido.

O método de Joseph Goebbels, usado exaustivamente durante o nazismo, está vigente: caricaturar e desumanizar, no sentido de rebaixar ao nível do “sub-humano”, os inimigos. Quem são eles? Todo aquele que se opõe - não às personalidades homossexuais nem aos direitos concedidos à classe, mas à flagrante tentativa de estabelecer a tirania homossexual – ao movimento. Que exerçamos a nossa cidadania a fim de protegermos nossa liberdade. Conforme Jesus elucidou: “Conhecereis a verdade, e a verdade os libertará.” (Evangelho segundo João 8:32). Que a verdade seja revelada a fim de que seja conhecida.

sábado, 14 de setembro de 2013

Desvendando a ignorância científica

Matheus Viana

Um dos pilares do exercício da apologética cristã é desconstruir as argumentações baseadas em conceitos reducionistas. Um argumento comum e explicitamente reducionista é o de que o criacionismo possui apenas implicações religiosas. Como contraponto, surge a afirmação de que apenas argumentações científicas são válidas por serem neutras e considerarem apenas os fatos naturais. Isso é uma falácia. Vejamos por quê.

O termo criacionismo possui várias vertentes: a religiosa, a bíblica e a científica. O criacionismo científico busca através das leis da ciência dar uma resposta não natural ao surgimento da vida e do universo, ou seja, atestar o fato de que foram criados. Entretanto, não pretende explicar quem foi o criador, ficando a cargo da religião essa resposta.

Algumas leis científicas respaldam a teoria do criacionismo científico. Entre elas está a Lei da Biogênese, teorizada por Louis Pasteur, que comprovou, através de experimentos, que vida só é gerada a partir de outra vida. Analisemos também a Primeira Lei da termodinâmica. A expressão termodinâmica (termo – temperatura, dinâmica – movimento) já denota o propósito ao qual ela serve. Como é definida, esta lei implica no princípio da conservação da energia. Por conta da existência da entropia, esta conservação não é algo estático, mas implica em movimento, por isso é “dinâmica”.

Aristóteles define movimento como o ato (por exemplo, uma mangueira) de um ser em potência enquanto tal (por exemplo, a semente desta mangueira antes de se tornar mangueira), ou seja, a passagem da potência para o ato. No entanto, conforme a Lei da termodinâmica preconiza, este sistema não pode criar ou consumir energia, mas apenas armazená-la ou transferi-la. Contudo, esta lei trabalha com o fato de a energia ser um ato. Sendo um ato, como tudo na natureza, ele é oriundo de uma potência. Mas, qual é a sua potência? Se é o átomo? Qual é a potência do átomo?

Se a lei da termodinâmica é o “movimento da energia”, este movimento, obviamente, não é algo estático. Se não é estático, implica em algo processual. Se é um processo, existe uma forma, um modo de acontecer. Neste fato reside algo muito interessante. O enunciado de Clausius, na segunda Lei da Termodinâmica, diz: O calor não pode fluir, de forma espontânea, de um corpo de temperatura menor, para outro corpo de temperatura mais alta.”. Podemos, baseados neste enunciado, afirmar que a fluência de calor implica em um processo. E ele está submisso a um modo de acontecer que não ocorre de forma espontânea, mas é anteriormente determinado por algo ou alguém externo. Este princípio aplicado às questões mecânicas, como por exemplo, uma geladeira, fica evidente a ação do homem no processo. Mas e no caso das temperaturas e demais processos naturais? O quê ou quem é o agente externo?

A ciência que estuda os acontecimentos naturais é a fenomenologia. Há duas fenomenologias distintas: a teorizada por Immanuel Kant e a teorizada por Edmund Husserl. A de Kant separa o conhecimento - além das razões pura e prática - em duas partes: cognoscível (fenômeno) e incognoscível (númeno). Os fatos cognoscíveis (que podem ser conhecidos e estudados) são os acontecimentos naturais, e os incognoscíveis são os fatos metafísicos, que não podem ser estudados por meio da razão. Em outras palavras, do método científico teorizado por Francis Bacon durante a revolução científica do século XVII. Kant definiu Deus e tudo o que pode ser relacionado a Ele como incognoscível.

Na esteira da fenomenologia kantiana, surgiu o positivismo de August Comte que consiste em suas leis invariáveis, de onde se deriva o determinismo. Ou seja, é impossível associar o “acaso” e os processos naturais espontâneos à noção de propósito e determinação positivistas. Há também a chamada “fenomenologia moderna”, cujo considerado “pai” foi o matemático alemão Edmund Husserl. Husserl define como fenômeno todo fato que ocorre diante da consciência do indivíduo. E, sua fenomenologia, por ser ampla, deve ser realizada por todas as áreas da ciência que envolvem o fenômeno. No caso do surgimento do universo e da vida, devemos considerar a astrofísica, a geologia, a física, a matemática, a antropologia, a biologia e, além de outras, a filosofia e, para desespero de muitos, a teologia.

Não se pode extirpar a participação da filosofia e da teologia – que difere de religião - do exercício e desenvolvimento da ciência. O modelo científico – que consiste na tríade: hipótese, experimentação empírica e generalização -, é consequência do avanço da filosofia e da teologia. Por mais ateu que você seja, não pode deixar de considerar o fato histórico de que grandes cientistas, cujas teses ajudaram a desenvolver os estudos científicos, eram cristãos, como Nicolau Copérnico, Johannes Kepler e Isaac Newton.

Um dos fatores motrizes do método científico, sem deixar, claro, de citar a importância do empirismo de John Locke, entre outros, foi René Descartes com o que definiu como Dualidade Psicofísica. Resultado de seu cogito: “Penso, logo existo”, Descartes, que definia a essência humana como razão – ser pensante -, afirmava que o ser humano, em sua plenitude, era dividido em duas partes: o ser pensante (razão/psico), que é alvo de estudo da filosofia; e o físico (corpo), que é alvo de estudo da biologia. Desta dualidade é que surge a divisão científica que conhecemos atualmente. Por que relembro estes fatos históricos? Porque Descartes, considerado o pai do racionalismo, amplamente usado pela ciência, era Cristão e, apesar de criticar alguns elementos da filosofia de Aristóteles, formado pelo método escolástico.

Por falar em método escolástico, não se pode tirar da ciência que conhecemos atualmente o argumento cosmológico Kalam, desenvolvido por Al Ghazali e Tomás de Aquino. O filósofo americano Willian Lane Craig, a respeito do argumento cosmológico Kalam, diz: “Al-Ghazali propõe o seguinte raciocínio: Tudo o que começa existir o faz num determinado momento do tempo. Contudo, uma vez que antes da existência de alguma coisa todos os momentos são iguais, deve haver uma causa que determina que algo venha a existir naquele momento, e não antes ou depois. Portanto, tudo o que existe deve ter uma causa.”1. 

Baseado na filosofia científica de Aristóteles, Tomás de Aquino defendia que tudo o que existe no mundo carrega em si um propósito. Elucidando sobre isso, Craig diz: “Vemos no mundo que as coisas estão em movimento. Contudo, tudo o que se move é movido por outra coisa qualquer. Isso porque uma coisa que tenha o potencial de se mover não pode transformar em ato seu próprio potencial. É preciso que alguma outra coisa faça com que ela se mova. Esta coisa, porém, também é movida por alguma outra coisa que, por sua vez, também é movida por outra e assim por diante.”. Neste caso, ou se usa o argumento ad infinitum, o que nos reduziria a um niilismo irracional (e nada científico) ou somos forçadamente, pelas vias da razão, a nos convencermos de que, conforme Aristóteles afirmou, há um ser, um ato, que não foi gerado por uma potência; mas sempre existiu como um Ato Puro ou Primeiro Motor. Afirmar que este ser seja Deus é uma pressuposição religiosa. Mas afirmar a existência de um Ato Puro é uma pressuposição científica, ou melhor, do criacionismo científico.

Este ser - Ato Puro - passou a gerar as potências, que se transformaram em atos, com um propósito. Fato que derruba o “acaso” comumente aplicado à teoria da evolução. Outro fato científico que denota a ideia de um Ato Puro, ou Primeiro Motor, é o DNA. De acordo com o físico e astrofísico Jason Lisle: “O DNA se enquadra na definição de informação: contém uma mensagem codificada (os pares em tripletes representam aminoácidos) e tem uma ação esperada (a formação de proteínas) e um propósito pretendido (a vida)”. Lisle ainda afirma: “A informação do DNA não pode ter surgido por mutações e seleção natural, pois as leis da ciência da informação dizem que toda informação vem de uma mente. (...) As leis da ciência da informação confirmam a criação”.2. 

Falando sobre as possíveis “mutações evolucionistas”, Lisle faz menção à reserva genética contida no DNA. Ele preconiza: “Nunca foi observado que as mutações pudessem acrescentar informação totalmente nova, e assim elas não podem ser o mecanismo condutor da evolução. Ocasionalmente as mutações podem fazer uma seção de DNA ser duplicada, mas será que isso realmente aumenta a informação?”. Ou seja, pelo mecanismo da reserva genética, é possível que haja mutações, mas esta quantidade de informações não é suficiente para, por exemplo, fazer com que uma barbatana se transforme em uma pata. 

Esta reserva genética não gera “novas” informações. Os que afirmam esta possibilidade estão, ainda que inconscientemente, afirmando a existência de uma informação criativa. Apesar de todas as hipóteses deste mote apresentadas pela teoria da evolução, nenhuma delas ainda foi submetida, satisfatoriamente, à experimentação empírica. E por isso não podem, nem de longe, ser tratadas como fatos científicos. Lisle ainda afirma: “Informação criativa não pode aumentar espontaneamente, por acaso. Ela é sempre resultante de inteligência.”. É também nesta evidência, por exemplo, que a teoria do Design Inteligente se baseia. Diante de tudo isso, podemos deduzir que a afirmação de que o criacionismo possui apenas implicações religiosas é bastante simplista, para não dizer ignorância, ainda que mascarada com a expressão científica.

Referências bibliográficas

1 - CRAIG, Willian Lane, Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã – 2 ed., São Paulo: Vida Nova, 2012

2 - LISLE, Jason. A prova definitiva da criação: resolvendo o debate das origens – Editora Monergismo, 2012

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Corpo de Cristo x corporativismo cristão

Matheus Viana

“Não apenas ministério, nem somente empresa. Somos um ministério organizado como empresa cumprindo uma missão.”.

Esta é a filosofia relacionada a uma instituição que, segundo se define e age, não sei se é religiosa, corporativa ou uma síntese de ambas. Mas analisando o comportamento e os modelos organizacionais usados por várias denominações e instituições evangélicas, vemos que a filosofia acima é a que as fundamenta. A questão que surge é: Este é o padrão bíblico? Depende de qual seja a bíblia. De acordo com a Bíblia cristã canônica, que descreve o perfil e a organização da Comunidade Cristã, também conhecida como Igreja primitiva, não é. Veremos por quê.

Comecemos com a concepção da Igreja. Jesus disse a Pedro: “Te digo que tu és Pedro (petrus, pequena pedra), e nesta pedra (petra, rocha), edificarei a minha igreja...”. (Evangelho segundo Mateus 16:18). Jesus é o fundamento da Igreja. Sim, isso é obvio. Sendo assim, somos sua extensão como representantes na terra. Sobre a sua organização, Paulo, o autor que mais elucidou sobre este aspecto, a descreve como um corpo. 

Um corpo é algo organizado. Nossos movimentos motores são determinados pelas sinapses cerebrais em sinergia com os batimentos cardíacos e orquestrados com os dinamismos neurais, musculares e com toda a complexidade da qual somos constituídos. Paulo elucida sobre a vasta e plural organização da Igreja, personificada no corpo de Cristo, no capítulo 12 de sua carta aos coríntios.

Além disto, vemos a organização da Igreja primitiva no livro de Atos dos apóstolos. Logo no primeiro capítulo, vemos a instituição de Matias para assumir o ofício de apóstolo no lugar de Judas. O presbitério formava o governo da Igreja, modelo utilizado por Cristo no exercício do discipulado. Após este episódio, todavia, não vemos nas Escrituras a continuação de instituir doze pessoas como organização eclesiástica. Não vemos, por exemplo, quem eram os “doze” discípulos de Pedro, de João ou de qualquer um dos apóstolos.

Contudo, a Igreja primitiva era meticulosamente organizada. Verdade evidente no livro de Atos. Lucas relata tal fato: “Naqueles dias, crescendo o número de discípulos de fala grega entre eles, queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os doze reuniram todos os discípulos e disseram: ‘Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens (e não doze) de bom testemunho, cheios do Espírito de sabedoria. Passaremos a ele esta tarefa e nos dedicaremos á oração e ao ministério da palavra’”. (Atos 6:1-4).

Vejamos! Na Igreja primitiva havia atividades diferentes e específicas. Os doze apóstolos foram separados para os ofícios espirituais (oração e ensino da Palavra). Já os sete diáconos, escolhidos pelos membros, foram separados para o serviço social. O padrão da verdadeira Igreja de Cristo não faz distinção entre os evangelismos espiritual e social. Considera-os como dois lados de uma mesma “moeda”. Apesar de tal coesão, no entanto, cada membro exerce sua função conforme o dom que recebeu do Espírito Santo (I Coríntios 12:4-7). Organização não anula a pluralidade. Verdade fundamental esquecida pela Igreja atual.

Esta organização, todavia, não tem caráter corporativo. Pois a base é Cristo. Logo, não extrai o dinamismo da vida humana. Temos visto a derrocada do evangelho atual que, a cada dia que passa, se conforma aos moldes corporativos (empresariais). Modelos eclesiásticos se rendem às configurações do marketing no intuito de arrebanhar mais membros não como resultado de uma conversão genuína (experiência religiosa), mas por tocar as necessidades criadas por uma sociedade consumista e cada vez mais pautada no materialismo e no ideal da autoajuda. Ou seja, a necessidade de arrependimento e de salvação tem sido preterida pela “necessidade” de riquezas materiais e satisfações emocionais. Estamos longe do culto racional elucidado por Paulo em sua carta aos romanos (Romanos 12:1-2).

Por isso, ministérios foram transformados em empresas. Há, acredite, quem veja esta metamorfose como algo normal. Como consequência, pastores têm usado da influência e do carisma – sim, me refiro à caris(Graça) divina – que possuem para arrebanhar adeptos para a sua rede do cada vez mais comum marketing multinível. Há quem diga que esta atividade é paralela ao ministério. Mas os fatos evidenciam uma realidade bem diferente.

Como consequência, temos visto o crescimento do chamado evangelhomodo-de-produção. O cristão passa a ter seu convívio social na denominação onde frequenta condicionado à sua produtividade. Sim, há metas e todos os atributos contidos nos pacotes corporativos de empresas famosas. Consultores de empresas como John Maxwell, Myles Monroe, entre outros ganham ares de teólogos. Em contrapartida, gigantes teológicos como John Stott, Alister McGrath, John Piper, Augustus Nicodemus entre outros são preteridos como radicais. Em qual destas “alas” Jesus estaria? Você ainda têm dúvida?

Jesus, em sua época, encontrou uma religião configurada nos moldes “corporativos” romanos. Consequentemente, foi rejeitado e desprezado. Por esse mesmo motivo, Deus enviou João Batista, sacerdote por direito e herança por parte de pai e mãe, a exercer seu ofício sacerdotal no deserto a fim de ser a “voz do que clama no deserto”. Segundo a Bíblia, ministério (corpo de Cristo) e empresa (corporativismo cristão) são incompatíveis. São insolúveis como a água e o óleo. Basta analisarmos o modelo organizacional da Igreja primitiva para detectarmos, com certa obviedade, tal verdade.

Certa vez, quando era editor da revista Profecia, um pastor questionou dois membros da revista sobre ela ser um mero “ganha pão” e, por isso, não se tratava de um ministério. Quão grande equívoco! A revista se enquadrava exatamente no modelo que Jesus estabeleceu: “Porque a minha comida (ganha pão) consiste em fazer a vontade daquele que me enviou a fazer a boa obra.” (Evangelho segundo João 4:34). Pregávamos o Evangelho através da revista e, ao mesmo tempo em que recebíamos (muito pouco, quando recebíamos), também pagávamos um alto preço por isso. Quem participou deste processo sabe o que estou dizendo... 

Jesus estabeleceu a Igreja para ser Seu corpo na terra. Ou seja, que sua organização e ação sejam resultados de sentirmos (Filipenses 2:5), pensarmos (I Coríntios 2:16) e agirmos como Ele (I Coríntios 11:1). Esta “tríade” é impossível em uma organização estática como a empresarial. A organização da Igreja de Cristo é baseada em Sua Palavra que é “Espírito e vida” (Evangelho segundo João 6:63), e não em sistemas e métodos pragmáticos.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Níveis de conhecimento - Parte II

Matheus Viana

Sabemos que Deus não quer que O conheçamos apenas no nível da opinião, mas que possamos atingir o conhecimento oriundo da experiência. No entanto, no que ela consiste? Esta é a questão fundamental. O primeiro aspecto a ser analisado são os dois pontos nela envolvidos: o sujeito (o ser humano que busca o conhecimento) e o objeto (Deus, o ente a ser conhecido).

A experiência do ser humano com algo natural, chamada de fenômeno, pode ser descrita e explicada de acordo com a área em que ela ocorreu. Por exemplo, se é um fenômeno no corpo, ele é estudado a partir das premissas fenomenológicas das ciências que lidam com o corpo humano como biologia, ortopedia entre outras. Caso seja um fenômeno mental, será estudado a partir da neurociência, da psiquiatria e da psicologia. É neste mote, por exemplo, que August Comte teorizou a sociologia, também conhecida como ciências sociais, onde propôs a fenomenologia dos fatos sociais.

Contudo, conforme preconizou Edmund Husserl, considerado o pai da fenomenologia moderna, estas especificidades não são independentes, mas interdependentes. Ou seja, outros ramos da ciência são utilizados não apenas para descrever o fenômeno (o quê ocorreu), mas também para entendê-lo (por quê ocorreu). Um exemplo são as chamadas doenças psicossomáticas. Nestes casos, torna-se necessária uma fenomenologia que contemple os diferentes aspectos envolvidos no processo que desencadeou a enfermidade (fenômeno a ser estudado).

Mas sabemos que a obtenção da verdade – e também da descrição e explicação do fenômeno - apenas pelo método científico trata-se de um reducionismo. O Pe. Ednilson Turozi de Oliveira, doutor em Ciência e Filosofia da Religião, em seu livro Ensino Religioso: fundamentos epistemológicos (Intersaberes – 2012); cita uma breve síntese do pensamento dos especialistas em História e Ciência da religião, Giovanni Filoramo e Carlo Prandi, contido no livro As ciências das religiões. Elucidando sobre a chamada “autonomia do objeto”, Ednilson Oliveira afirma: “Para eles (Filoramo e Prandi), existe uma autonomia da experiência religiosa que escapa do campo da investigação empírica”.

Esta autonomia, a qual também podemos batizar de peculiaridade, dá-se pelo fato de que a experiência religiosa, cientificamente chamada de númeno, é uma relação do natural (sujeito) com o sobrenatural (objeto). Por isso, o critério fenomenológico da experiência religiosa abarca o ser humano integralmente pelo fato de ela compreender e considerar todas as áreas de sua vida. É por isso que Jesus, citando o Shemá (Deuteronômio 6:5), preconizou: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento.” (Evangelho segundo Mateus 22:37).

Apenas ouvir sobre Deus não é o suficiente. Longe disso. Contudo, este fato não pode nos levar a desprezarmos a importância de ouvirmos. Ele é o ponto de partida, mas não o de chegada. Neste mote, o apóstolo Tiago adverte: “Não sejais apenas ouvintes, mas sim praticantes.” (Tiago 1:22). A prática da Palavra é produto de uma experiência com ela.

Conforme vimos no texto O processo de crescimento, a prática é o terceiro passo do processo da sabedoria. O primeiro é a informação (ouvir a Palavra) e o segundo é adquirir o conhecimento, ato que consiste em digerir a informação com a mente.  No caso do cristão, é renovar seu entendimento (Romanos 12:2) através da ação do Espírito Santo (Evangelho segundo João 14:26) que nos revela os pensamentos de Deus (I Coríntios 2:11-16).

A maioria dos estudiosos de ciência da religião não faz separação entre sujeito e objeto, mas considera que ambos são coesos e interligados. Isto talvez seja pelo fato de que Husserl, em sua fenomenologia científica, também não faça. Ele chega a afirmar que o sujeito doa sua consciência e inteligibilidade ao objeto. Na teoria da percepção religiosa, feita por William Alston, a experiência religiosa é condicionada por perspectivas históricas, religiosas e culturais. E, por isso, a descrição e a explicação da experiência levam em conta a interpretação pessoal do sujeito. Exemplo: a mesma experiência vivida por dois sujeitos diferentes, um cristão e outro budista, será por eles descrita e explicada de acordo com seus pressupostos.

É aqui que entra em cena a importância de “ouvirmos a Palavra de Deus”, ou melhor, do ensino teológico como base de nossos pressupostos históricos, culturais e religiosos. A teologia cristã, em sua amplitude, estuda quem o sujeito é e também quem o objeto é. É por isso que Calvino afirma em sua primeira instituta: "O verdadeiro conhecimento do ser humano é completamente dependente do verdadeiro conhecimento de Deus". E, a partir destes conhecimentos, podemos analisar, de forma completa, a experiência religiosa (nosso relacionamento com Deus). Por isso a ação de Deus no ser humano – através do Espírito Santo – é determinada pela Sua Palavra – escrita ou falada (Evangelho segundo João 14:26).

É por isso que Salomão alertou: “Ensina a criança o caminho em que deve andar...” (Provérbios 22:6) e Esdras afirmou: “Guardo no meu coração as tuas palavras ...” (Salmos 119:11). Pois uma experiência religiosa fora da Palavra de Deus nos conduzirá para longe Dele e, consequentemente, para longe do conhecimento que Ele deseja que alcancemos. Em outras palavras: o objeto da experiência religiosa não será Deus.

Diferente de Husserl, David Hume, além de separar sujeito de objeto, divide o objeto em duas partes: o ser e a aparência do ser. No campo da religião, Wayne Proudfoot usa a dicotomia entre sujeito e objeto e foca sua fenomenologia no sujeito, levando em consideração a explicação história, cultural e religiosa que o levou a ter tal experiência. Em contrapartida, na tentativa de encontrar algo em comum que fundamente as diferentes experiências religiosas, Willian James, Walter Stace e Caroline Franks Davis afirmam, consensualmente, que existe um núcleo comum entre elas. Contudo, ele extrapola os pressupostos religiosos, históricos e culturais, que podem ser diferentes. 

Sim, este núcleo existe. Podemos afirmar que se refere à necessidade que o ser humano possui de conhecer algo além de si mesmo (Não deixe de ler o texto Perscrutando o imperscrutável). Ou melhor, de conhecer sua origem, que Francis Schaeffer chamou de Predicado humano, e também do mundo em que viveSendo assim, este núcleo comum é a necessidade de conhecer Aquele de onde tudo se originou. Você O conhece?

Níveis de conhecimento - Parte I

Matheus Viana

Jó certa vez afirmou sobre sua relação com Deus: “Te conhecia de ouvir falar, mas agora meus olhos te vêem.” (Jó 42:5). Obviamente esta afirmação, ao ser lida, é classificada como uma experiência religiosa. E é sobre isso que quero me ater. Para isso, precisamos falar em fenomenologia. Calma! A palavra é extensa, mas o conceito não é difícil. Para entendermos, temos que evocar sua origem.

No auge do Iluminismo, no século XVIII, também conhecido como século das luzes por combater o obscurantismo da Igreja Católica que se posicionou frontalmente contra os avanços científicos que eclodiram nos séculos XVI e principalmente no XVII que minaram, de certa forma, sua autoridade; Immanuel Kant dividiu o conhecimento em duas partes: Cognoscível (fenômeno) e Incognoscível (númeno).

De acordo com esta divisão, os eventos que podem ser observados pelos sentidos e conhecidos pela mente humana (fenômenos/naturais) seriam alvo de estudo da ciência. Em contrapartida, tudo o que fosse relacionado a Deus (númeno/sobrenatural) deveria ser descartado. Ou seja, não deveria ser alvo de estudo, mas apenas objeto de fé para quem a possuísse.

Ao criar tal dicotomia, Kant ignorou o fato – óbvio, diga-se de passagem – de que toda fé possui um objeto. E que é crucial para o fiel conhecer o objeto onde deposita a sua fé. Não é em vão que Agostinho, um dos principais personagens da patrística, usava os atributos da filosofia para estudar os dogmas teológicos da Igreja. E desta conduta criou-se a máxima: “A razão (filosofia) é serva da fé (teologia dogmática)”. O escritor da carta aos Hebreus elucida: “Tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé.” (Hebreus 12:2). O alvo da fé de um cristão é Jesus, o Cristo. Logo, a fé de um cristão só adquire sentido na medida em que O conhece.

Mas aqui temos um paradoxo. Neste trecho da carta, o escritor adverte sobre colocarmos os olhos no objeto de nossa fé. Contudo, em trechos anteriores, ele elucida sobre o conceito de fé: “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.” (Hebreus 11:1). Como podemos colocar os olhos no objeto de nossa fé se a definição de fé é justamente a certeza no que não podemos enxergar? Com tal afirmação, o escritor advertiu sobre o fato de que a experiência religiosa extrapola as razões pensante e empírica. Ou seja, não pode ser estudada apenas pelo método conhecido como científico, como um fenômeno natural pode.

Mas, apesar disto, a experiência religiosa, que redunda na fé, não anula a razão. Veja que o primeiro conceito que o escritor da carta aos hebreus aplica ao tema ‘fé’ é “certeza daquilo que esperamos”. Sim, nossa esperança está em Cristo, o objeto de nossa fé. Contudo, podemos enxergá-lo? Claro que não! Pelo fato de não podemos vê-lo, não é possível termos fé Nele? Sim, é possível. Pois, ainda que não O vejamos, podemos conhecê-Lo. Como? O próprio Jesus nos deu a resposta:“Examinai as Escrituras, pois elas de mim testificam.” (Evangelho segundo João 5:39). Este “examinai” envolve o exercício da razão, acredite você ou não.

Mas não apenas isso. Na afirmação de Jó, podemos ver dois níveis de conhecimento: o de “ouvir falar” e o da experiência empírica; “mas agora meus olhos te vêem.” Platão, em seu livro A república, elucidou sobre estes dois conhecimentos, os quais chamou de doxa e epísteme. Doxa é o conhecimento baseado na mera opinião, no ouvir falar. Já o Epísteme é o conhecimento científico, mas não segundo o conceito que conhecemos hoje, onde o conhecimento filosófico (subjetivo) e o científico (objetivo) são separados desde a revolução científica do século XVII. E sim no conhecimento profundo e completo que, de acordo com Platão, era adquirido apenas pelo indivíduo que se submetesse ao estudo filosófico oferecido pela Academia.


Portanto, vemos que Jó possuia sobre Deus apenas o conhecimento de “ouvir falar”. Ou seja, era mera opinião. Através do profeta Oséias, Deus expressa o desejo de que o nosso conhecimento sobre Ele extrapole este nível: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...” (Oséias 6:3). Qual tem sido o seu conhecimento sobre Deus: opinião ou experiência? Reflita! Em breve analisaremos este tema sobre outra perspectiva.

domingo, 11 de agosto de 2013

A importância em conhecer História da Igreja

Felipe Ramos*

Na noite de segunda-feira (05/08/2013) os seminaristas do Curso Ministerial do Instituto Metodista Renovada de Ensino Teológico apresentaram interessantes palestras sobre as diversas vertentes cristãs que se desenvolveram ao longo destes dois mil anos de Cristianismo.

Sínteses foram apresentadas acerca do Catolicismo Romano, Reforma Protestante, Metodismo, dentre outros temas. Além disso, algumas importantes tendências teológicas foram explanadas pelos seminaristas, como Liberalismo Teológico, Fundamentalismo Teológico e Pentecostalismo.

Havia alguns objetivos a serem alcançados nesta noite: a) consolidar a seriedade do IMRET e capacidade de aprendizado proporcionada ao aluno dedicado; b) estimular os seminaristas a buscar um aprofundamento do tema de seu trabalho; c) provocar nos convidados presentes curiosidade e interesse em conhecer mais sobre os temas discutidos. Possivelmente todos os propósitos foram alcançados e, sem dúvida, este foi o primeiro de muitos eventos deste porte que virão.

A Igreja Metodista Renovada já possui um histórico de organização de palestras, debates e seminários que contribuem para a edificação dos cristãos. Esses eventos não só dão base de fé sólida para seus membros como também os capacitam para a missão de evangelizar por meio do discipulado consistente. O Chá Teológico objetivou seguir a linha de formação de liderança que possui a igreja liderada pelo respeitado Bispo Inaldo Barreto.

A “História da Igreja” é uma disciplina estimulante na qual constatamos que o Cristianismo não nasceu ontem, muito menos na fundação de nossa denominação. Não. O Cristianismo é a história do povo de Deus que por dois mil anos tem testemunhado sua fé. Estudar a História da Igreja não é tão simples como pode parecer, afinal o entendimento teológico vai se formando ao longo do tempo; as práticas de fé, de culto e de evangelização vão se diversificando com o passar dos anos. Além disso, heresias e desvios de ensinamento sempre estiveram perturbando a tranquilidade da Igreja, assim como ensinamentos que levaram a certos abusos dentro do corpo de fieis.

Estudar História da Igreja também nos dá identidade, como foi dito pelo pastor Luiz Henrique. É lícito que tenhamos sempre vivo à memória o testemunho de fé daqueles que nos precederam e lutaram o bom combate, seja com seus livros, seu cuidado com as ovelhas, sua apologia da fé, suas missões e evangelizações, suas exortações e, por fim, com suas próprias vidas.

Contudo, há aqueles que criticam a utilização de rótulos e o apego à uma tradição teológica específica alegando que isso não passaria de “doutrina de homens”. Muitos desses, pensando estar vivendo um cristianismo “puro”, acabam por ter uma identidade velada e desconhecida por si próprios. Ou seja, há um lugar e época de origem na História da Igreja onde determinada doutrina e/ou prática surgiu. Dessa forma, os que não concordam com a adesão a alguma identidade teológica são os que mais possuem apegos teológicos e, pior, não sabem de onde surgiram e nem o porquê de existirem outros cristãos que vivem a fé de maneira diferente da que vivem. Além disso, essas pessoas geralmente possuem teologia ruim e infrutífera – é o prêmio recebido por ignorar tão importante estudo.

Portanto, tendo em mente o que foi dito acima, São Paulo nos alertou: “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo” (I Coríntios 1:12 em diante). Há sempre o risco de existir divisão entre os cristãos por diferentes posições e tendências teológicas. O versículo acima mostra a constatação do apóstolo Paulo sobre este acontecimento na igreja de Corinto. Devemos ter cuidado para não causar divisão desnecessária, por questões teológicas secundárias. Mas o versículo nos mostra mais um perigo que reside no outro extremo, qual seja, de se achar seguidor “apenas de Cristo”, não tendo nenhuma autoridade acima de si mesmo, a não ser Cristo.

Este erro é típico dos “desigrejados” que, não sendo subordinados a nenhuma autoridade espiritual terrena e não sendo filiado a nenhuma congregação específica (portanto não participando plenamente do corpo de Cristo), se dizem “seguidores de Cristo” – e o que passar disto é “doutrina de homens”. Os tais também tiveram uma repreensão por parte do apóstolo. Ele reconhece que a autoridade máxima e absoluta é Cristo, mas que essa autoridade passa pela Igreja; e a Igreja não está morta, não é estática, ela continuamente está se desenvolvendo ao longo da história.

O estudo da História da Igreja nos faz conhecer os pais da fé, os reformadores da fé, os avivalistas da fé, enfim, os heróis da fé; ignorar a importância da História da Igreja é jogar o legado de homens de Deus no lixo, como se estivéssemos dizendo que a fé que possuímos hoje não passou pela vida dos cristãos do passado, pelas penas dos cristãos do passado, pelas lutas dos cristãos do passado; como se estivéssemos dizendo “sou apenas de Cristo”, não preciso de mais ninguém.

Concluo, portanto, fazendo um convite aos estimados leitores: o de levarem em conta o estudo teológico (que é vivo e produz frutos) para crescimento pessoal e edificação da Igreja de Cristo, da sua congregação, dos seus liderados e discípulos. A História da Igreja proporciona estas bênçãos para aqueles que a ela se dedicam. O IMRET, com a sua boa grade curricular, está pronto para preparar teologicamente cristãos para enfrentar os desafios de nossa época – afinal, a História da Igreja ainda está sendo escrita com nossas vidas e é mister que estejamos preparados para toda obra, armados com o pleno conhecimento da Verdade.

*Felipe Ramos é professor de Filosofia, Sociologia e Informática no IAVEC (Instituto Avançado Vida de Ensino Cristã) e de História da Igreja da turma ministerial no Seminário Teológico IMRET.

Aprendendo "na prática"

Matheus Viana

A expressão “aprender na prática” é entoada como uma espécie de mantra desde a existência humana. E não é para menos, pois faz parte do processo de nosso desenvolvimento. O intrigante é que ela não ignora a importância da teoria. Por exemplo, meu pai aprendeu a fazer muitas coisas “na prática”, ou seja, mediante a observação de algumas ações realizadas por outro indivíduo. Mas esta observação é considerada teórica, pois, ainda que não foi a livros ou à prédica de alguém, foi algo passivo que se tornou algo prático.

Jesus certa vez disse: “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma se não ver fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.” (Evangelho segundo João 5:19). Sim, Jesus fazia somente o que via o Pai fazer. Suas ações eram resultantes de observação. É neste mote que o apóstolo Paulo advertiu:“Sede meus imitadores como sou de Cristo Jesus.” (I Coríntios 11:1). Em outras palavras, olhem para as minhas ações e, assim como eu busco ser, sejam (Romanos 8:29), pensem (I Coríntios 2:16), sintam (Filipenses 2:5) e ajam como Jesus Cristo.

Esta observação elucidada por Jesus e por Paulo não é mera observação. Paradoxal? Claro que é. Explico. Jesus fez, além daquilo que viu seu Pai fazer, o que estava descrito na Lei e nos profetas. Conforme afirmou, Ele não veio para abolir a Lei de Moisés, mas para cumpri-la (Evangelho segundo Mateus 5:17). Toda sua obra foi o cumprimento do que Deus, através dos profetas, tinha dito ao povo. Não é em vão que, ao expirar na cruz, sentenciou: “Está consumado!” (Evangelho segundo João 19:30).

Entender este aparente paradoxo é crucial para a nossa fé e o desenvolvimento de nossa salvação (Filipenses 2:12). Certa vez, em uma aula no ensino médio, perguntei aos alunos se eles concordavam com a afirmação: a teologia é inimiga da fé. Apenas um não concordou e outro ficou indeciso. O restante concordou. Fiquei chocado.

Esta afirmação contraria o caráter do próprio Deus, pois Ele se revela através de Sua Palavra. Jesus, conforme Ele mesmo afirmou, se faz conhecer através das Escrituras (Evangelho segundo João 5:39). Ou seja, observar o que Jesus faz, a fim de O imitarmos, sem o conhecimento das Escrituras (teologia) é impossível. A fé torna-se inviável.

Você nutre fé em alguém que não conhece? Eu não. Seja sincero, você também não. Como podemos crer em Jesus se não O conhecemos, ou no mínimo ouvimos falar Dele? Quem afirma que a teologia é inimiga da fé, afirma que é possível ter fé em Jesus sem conhece-Lo por intermédio de ouvir ou ler acerca Dele. Além disso, Paulo elucida, em sua carta aos romanos, que a fé é dependente da teologia. Contrariado? Então leia: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Romanos 10:17). Ou seja, a fé vem pelo compartilhar da Palavra, seja ela oral ou visual. Em outras palavras, a fé vem pela teologia.

Afinal, o que é teologia? O significado é óbvio: Theos (Deus) – Logos (palavra/razão) = estudo sobre Deus. Mas Deus não é algo que pode ser estudado. Conforme preconizou Immanuel Kant, Deus e Seus atributos são incognoscíveis. No entanto, Jesus é a encarnação (Evangelho segundo João 1:12) e a imagem (Colossenses 1:15) de Deus para que Seu conhecimento seja possível a fim de crermos Nele. (Não deixe de ler o texto: Reducionismo proposital).

O próprio Jesus disse que O conheceremos ao examinarmos as Escrituras (graphás) (Evangelho segundo João 5:39). É exatamente este exame que recebe o nome de teologia. Há quem diga que teologia é o conjunto de matérias que consideram apenas o exercício da razão. Isso não é teologia, é ciência da religião.

O apóstolo Paulo diz que é o Espírito de Deus quem nos revela o conhecimento de Deus (I Coríntios 2:11). Mas esta revelação é mediante a Palavra. Observe o ensinamento de Jesus: “Mas o consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ajudará, vos ensinará, e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito”. (Evangelho segundo João 14:26).

A revelação do Espírito Santo é determinada pelos ensinamentos de Jesus registrados pelos apóstolos e demais escribas, como por exemplo, João Marcos, autor do Evangelho segundo Marcos, e Lucas, autor do Evangelho segundo Lucas e do livro de Atos. Em suma, na medida em que conhecemos a Jesus através da revelação que o Espírito Santo de Deus nos concede mediante Sua Palavra (ensinos, doutrinas e decretos = teologia), nossa fé se desenvolve. 

Sendo assim, aprendermos na prática a viver conforme Deus deseja que vivamos quando observarmos as Escrituras que testificam de Cristo. Exercermos a teologia e termos a nossa fé renovada a cada dia até atingirmos, conforme o apóstolo Paulo preconiza, a estatura do varão perfeito: Jesus Cristo (Efésios 4:13).