quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Cérebro e religião

Matheus Viana

O cérebro precisa de religião para seu pleno funcionamento. Esta foi a afirmação feita por um renomado cientista brasileiro, o neurologista Miguel Nicolellis, durante uma entrevista concedida à revista científica Planeta, edição 467, agosto de 2011:acho que a religião faz parte do sistema nervoso” (sic).

De acordo com Nicolellis, o cérebro humano precisa de respostas para questões como: de onde viemos? Como começou o universo? Mas algo que ele não disse durante a referida entrevista foi sobre a origem da atividade cerebral. Ele falou apenas do processo. Sim, é uma atividade eletro-química que resulta no ato do pensamento. De acordo com o enunciado de Clausius, pertencente à segunda lei da termodinâmica, processos estão sujeitos a leis que não surgem de forma espontânea, mas que precisam de ação externa.

Portanto, o cérebro humano precisa de respostas para tais questões pelo fato de que a Ciência, da qual Nicolellis é devoto, também precisa. Ou seja, precisa de um agente externo que viabilize todo o complexo processo cerebral. Se ele não busca tais repostas, seu exercício científico fica comprometido por não ter um fundamento teórico satisfatório que viabiliza a experiência empírica.

Quem é este agente externo é uma questão que não cabe à ciência responder. Mas é notório, até mesmo para um ateu, que a ciência, mesmo que cientistas não queiram, precisa de fundamentos epistemológicos de religião. Fato rechaçado pelos naturalistas, ou qualquer outra tendência reducionista. Contudo, negar a dependência da ciência à religião, o que é fato, é a demonstração de uma fé. Também é fato que o exercício do ateísmo é uma fé. Fé na não existência de Deus.

Mesmo assim, todo ateu honesto deve se render ao fato inquestionável que há alguém por trás da origem do universo, da origem humana e do ato do pensamento (atividade cerebral). E, por isso, ainda que os ateus balbuciem uma explicação, o cérebro precisa de um fundamento religioso (exterior à atividade humana). Isso é mais do que uma evidência científica de que não podemos – nem devemos – reduzir o universo, o ser humano, e tudo o que é natural ao naturalismo puro e simples. Por mais que você não queira, afirmar que há algo sobrenatural regendo o universo é questão de inteligência e bom senso.

Certa vez fui abordado por um aluno que diz não crer que o “Deus da Bíblia” criou os céus e a terra e tudo o que neles há. Ou seja, que este Deus tenha criado o universo e o ser humano. Este ponto de vista está claramente pautado em uma cosmovisão puramente materialista/naturalista, que rejeita o sobrenatural. Agindo assim, este indivíduo está sendo incoerente com o seu próprio processo de pensamento. Pois ele pensa, e por isso é capaz de não crer no “Deus da bíblia”, porque seu cérebro age segundo um processo que, por sua vez, está sujeito a uma lei que alguém externo à ciência estabeleceu. Veja que ainda não afirmei que este ser seja Deus.

Dizer que a vida humana surgiu espontaneamente de partículas é a tentativa desesperada de ateus que, na ânsia de negar a existência de Deus, que é maior do que promover uma ciência autêntica, negam leis da própria ciência; como por exemplo: a Lei da Biogênese, estabelecida por Louis Pasteur, que preconiza que apenas vida gera vida. Ou seja, apenas um ser vivo gera outro ser vivo. Isto é ciência. Mas quem, então, foi o primeiro ser vivo que gerou os outros seres vivos? Cientificamente, ele não é originário de partículas e moléculas atômicas, muito menos da colisão entre matéria e energia. Sejamos honestos.

Platão chamou este ser de Demiurgo, criado por uma “Alma Natural”. Sim, isto é filosofia especulativa. Aristóteles o denominou como Ato Puro ou Primeiro Motor. Falemos agora de ciência. Vários cientistas atribuíram este primeiro ser vivo a Deus. Sim, o Deus da Bíblia. Entre eles estão: Copérnico que, influenciado pelas conclusões de Aristarco de Samos, derrubou o modelo geocêntrico aristotélico (de que a Terra é o centro do universo e que o sol e os planetas giram ao redor dela), também usado por Ptolomeu, e estabeleceu, com forte oposição da Igreja Católica, o modelo heliocêntrico (o Sol como centro do universo e a Terra e os demais planetas girando ao redor dele); Kepler, que estudou o movimento dos corpos celestes, e Isaac Newton, o pai da teoria da gravidade e Leibniz.

Gênios que também usaram, para suas conclusões científicas, a mesma Bíblia que alguns dizem não passar de “historinhas para boi dormir”. No entanto, quem está agindo de forma inteligente? A história responde. Vejam os legados que estes “crentes” deixaram. Não crer que o Deus da Bíblia é, de fato, este agente externo que responde as questões que o cérebro humano busca responder é, de fato, uma atitude inteligente?

Mas há quem diga que este Deus é inconveniente por não aceitar nossas ações que são contrárias às suas atitudes. Aquele que não quer renunciar suas vontades que sejam contrárias às suas têm apenas uma alternativa: fabricar, com sua mente, um deus que se adeque exatamente às suas vontades e condutas. É isso que Feuerbach, filósofo alemão, diz em sua afirmação de que “o homem é seu próprio Deus”. Ou seja, que o homem tem a capacidade de criar um deus segundo aquilo que deseja. No entanto, esta capacidade foi dada exatamente pelo Deus que ele rejeita. É como dizer, em alto e bom som, que não precisa do ar pelo fato de não crer na existência dele, se esquecendo do fato de que o utiliza para falar.

Não crer no Deus da Bíblia, e criar um em sua mente que vá de encontro aos seus anseios e desejos, é direito do indivíduo. Mas o ser humano, que seja no mínimo honesto, deve saber fazer diferença entre o deus criado pela mente humana e o Deus que é a resposta para a origem do Universo e do ser humano. E, consequentemente, o Ser que estabeleceu as leis que viabilizam o processo que desencadeia a atividade cerebral que resulta no ato do pensamento... Ufa! Ah, e é pelo ato do pensamento que... criamos o deus que quisermos. Você só é capaz de produzir um deus em sua mente porque o Deus da Bíblia existe. Neste ponto, voltamos à afirmação do neurocientista. A questão é que ele chama Deus de “religião”.

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