sexta-feira, 28 de março de 2014

Inversão psicótica

Matheus Viana

Na psicologia, grosso modo, o fato de uma pessoa inverter conceitos e valores é chamado de inversão psicótica. O ataque contra a vida e obra de Jesus não é algo recente. Pelo contrário, é muito antigo. Mas com o passar dos séculos, ele tem se intensificado e, além disso, mudado de estratégia. Da perseguição aos cristãos desde o primeiro século da era cristã exercida por Roma, que ainda existe em países ateus (comunistas) e islâmicos, até o embate intelectual que se dá, de forma mais enfática, desde a revolução científica do século XVII, houve alguns estopins como, por exemplo, o iluminismo no século XVIII e o liberalismo teológico do século XIX.

Estas duas últimas formas de ataque têm sido utilizadas à exaustão, seja através do liberalismo teológico ainda vigente ou do evocar da filosofia alemã do século XIX (principalmente de Feuerbach, de Marx e de Nietzsche) como também do neo-ateísmo militante atual liderado por Richard Dawkins. O intuito é um só: provar que Deus não passa de invenção humana e que Jesus é apenas um personagem histórico que foi considerado uma divindade por alguns galileus.

Esta ideologia é claramente encontrada na série chamada Barrabás. Segundo os produtores, Barrabás, ao ser escolhido pelo povo judeu para ser solto na páscoa por Pilatos em detrimento de Jesus, foi, na verdade, o desdobramento de ter sido escolhido por Deus para trazer “libertação” aos judeus.

Após a crucificação de Cristo, o próprio povo passa a ver Barrabás, um ex-assassino, como alguém escolhido por Deus para livrar os judeus do jugo do império romano. Pois esta era a “salvação” que o povo, de fato, aguardava. Assim, não é Jesus o Cristo (Messias, Escolhido), mas, pasmem, Barrabás. Também fiquei estupefato ao ver o trailer desta produção que afirma ser “a verdadeira história de Barrabás”, embora não citem a fonte histórica...

Como professor de ensino religioso e de teologia sistemática, fico inquieto e irritado quando vejo programas como Os segredos da Bíblia onde alguns eruditos da área da teologia e da filosofia da religião fazem interpretações completamente equivocadas à exegese bíblica. Contando mentiras tão absurdas que qualquer um que saiba interpretar as Escrituras, mesmo não sendo um erudito, é capaz de diagnosticar. No entanto, os títulos acadêmicos que os mentirosos contumazes carregam têm o poder de transformar suas mentiras em “verdades”.

O livro apócrifo O evangelho segundo Judas visa colocar Judas como uma espécie de herói, já que Jesus só realizou o plano redentor de ir para a cruz em favor da humanidade porque ele, Judas, executou “muito bem” seu papel de traidor. Apesar da heresia, a obra de Jesus foi considerada. Já na produção em questão não foi. Barrabás lidera os judeus numa revolta armada, bem no estilo da guerrilha revolucionária, o que deixa a Cruz que Jesus tomou sobre si sem importância alguma. Isso é indício do relativismo latente. Pois já que a vida humana se limita ao material, a “salvação” que ela busca se resume ao nível natural, ou seja, à plena libertação de todo tipo de opressão natural que porventura nos impeça de viver na plenitude do que queremos. Em meio à este “mosaico opressor” está Deus e Jesus, o Cristo.


Tudo isso dá veracidade à afirmação do apóstolo Paulo: “O deus deste século cegou o entendimento das pessoas para não lhes resplandecer a luz do evangelho.” (II Coríntios 4:4). Não reconhecer a divindade de Jesus e o fato de que Ele é o Messias prometido em todo o Antigo Testamento são indícios desta razão corrompida e comprometida. Aos coríntios, Paulo parece que antevê a situação aqui analisada quando diz: “Visto que, (...) o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana.” (I Coríntios 1:21). O engano causado por esta cegueira intelectual, que denota a falta de sabedoria, é tão absurdo que considera Jesus como um coadjuvante e o assassino Barrabás como o Escolhido. Uma verdadeira inversão psicótica.

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