sexta-feira, 24 de abril de 2015

O dilema do senso moral

Matheus Viana

Certa vez um aluno me questionou: “Professor, se masturbar pensando na esposa é errado?”. Por ter como padrão moral as Sagradas Escrituras, respondi que sim. Em seguida, indagou: “Por quê?”. Respondi que a relação sexual foi criada por Deus para ser desfrutada entre o marido e sua esposa, com o propósito de que ambos desfrutem de prazer. Na masturbação, apenas o marido tem prazer, o que foge do propósito pelo qual o sexo foi instituído. E uma das implicações de pecado é errar o alvo.

Este aluno fez outras observações sobre este tema. Mas como a sala estava em um considerável frenesi, não foi possível continuar a conversa. No entanto, pouco depois, o ouvi dizer a outro aluno: “Não concordo com o fato de se masturbar ser errado apenas por que Deus diz que é errado.”.

Aqui está o “x” da questão. Por conta da depravação da natureza humana, temos propensão para fazer o que é errado. E isto se torna o fator motriz do conflito existente entre desejo e consciência. Queremos fazer muitas coisas que causarão o chamado “peso” ou “dor” na consciência. Por isso o apóstolo Paulo adverte: “Tudo é permitido, mas nem tudo convêm. Tudo é permitido, mas nem tudo edifica.” (I Coríntios 10:23).

O salmista declara: “Enquanto eu mantinha escondidos os meus pecados, o meu corpo se definhava de tanto gemer. Pois dia e noite a tua mão pesava sobre mim; minhas forças foram-se esgotando como em tempo de seca. Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas.” (Salmo 32:3-5). Tais palavras são a suma demonstração da consciência que corroía seu interior. Sentimento denominado como culpa.

Contudo, para não sentimos a “dor” que esta culpa gera, fazemos de tudo para que a consciência passe a interpretar como certo aquilo que normalmente interpreta como errado. O indivíduo tenta extinguir por completo o senso de certo e errado para fazer o que deseja e não sentir culpa por isso.

Esta é uma das premissas do ateísmo, pois não há como crer em Deus e não se submeter a um padrão moral, no caso o Seu, que é soberano por ser a origem de todos os outros padrões. Até mesmo dos contrários. Pois assim como o mal existe por ser a corrupção do bem, o padrão moral contrário ao padrão de Deus passou a existir como consequência do ser humano abandonar Seu padrão.

O jornalista ex-ateu Lee Strobel narrou certa vez sua própria experiência: “Quando era ateu, certamente tinha muitas motivações para encontrar defeitos no cristianismo. Sabia que meu estilo de vida beberrão, imoral e egocêntrico teria de mudar se me tornasse um seguidor de Jesus, e não estava certo de que queria mudar estas coisas”.

No entanto, raciocinemos segundo a lógica apresentada pelo aluno em questão para vermos sua conclusão. Se questiono o fato de que algo é errado porque Deus assim estabeleceu segundo Seu padrão moral, relativizo por completo o senso de certo e errado por querer muito que ele não exista, pois assim posso fazer o que quero sem sentir culpa. Conforme preconizou Dostoiévski em seu livro Os irmãos Karamazov: “Se Deus não existir, todas as coisas são permitidas”. Isso mesmo, se eliminarmos Deus de nossa vida, eliminamos Seu senso moral. Se eliminarmos Seu senso moral, não há mais certo ou errado. O salmista preconiza: "Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Tem-se corrompido, faz-se abominável em suas obras." (Salmo 14:1).

No caso do aluno, ele não suporta o fato de se masturbar ser errado por contrariar seu desejo. Contudo, se realizarmos tudo o que desejamos, teremos resultados que não nos agradarão (Provérbios 16:25), pois nosso coração é enganoso e desesperadamente corrupto (Jeremias 17:9). Imagine que você olhe para uma menina muito bonita e queira fazer sexo com ela. Mas ela, pelo contrário, não quer. Você sentirá vontade de forçá-la a fazer sexo com você, o que é um estupro. Se você estuprá-la por sentir vontade, não verá isso como errado.

Se chegar para uma criança de três anos, que ainda não tem idade suficiente para consentir em uma relação sexual, e propor fazer sexo com ela – por assim desejar - em troca de um ovo de chocolate, você cometerá um ato de pedofilia. Mas não achará isto errado por fazer “apenas” o que desejou. Logo, você não poderá dizer que uma pessoa que estupra crianças comete um crime ou qualquer outro tipo de imoralidade, pois ela fez “apenas” o que teve vontade de fazer.

Você acha normal uma pessoa fazer sexo com animais? Pois ela o fez como resultado de seu desejo. Imagine uma sociedade composta por pessoas que fazem tudo o que desejam, sem nenhum filtro moral! Simplificando, sem certo e errado. Seria o caos. Não haveria respeito mútuo já que a vontade do outro, de acordo com Friedrich Nietzsche, é uma espécie de filtro moral e, assim, inibidor de suas ações oriundas de seus desejos. No entanto, se eu colocar o meu desejo acima de todas as outras coisas, o desejo e o direito do outro perdem o valor. Por isso Schopenhauer define como injustiça todo e qualquer tipo de coerção da vontade alheia.

O senso moral faz parte da natureza humana. A própria necessidade de transformar em “certo” aquilo que nossa consciência mais profunda diz que é errado é indício de tal fato. E qual é, portanto, a origem deste senso? Não, não é o processo natural, também chamado de evolução. Se tal origem for este processo, que é pautado pelo que Darwin chamou de “processo de seleção natural” onde apenas os mais fortes sobrevivem por exterminar os mais fracos, então não é errado uma pessoa mais forte matar outra que seja mais fraca do que ela. É apenas natural.

Todavia, pergunte para qualquer indivíduo que pensa assim se ele acha correto o fato de uma pessoa mais forte que a mãe dele matá-la? Mas esta pessoa, de acordo com a filosofia “sou livre para fazer tudo o que desejo”, está apenas seguindo sua natureza, por isso não pode ser avaliada sobre o senso de certo e errado já que, além disso, ela desejou fazê-lo. E, repito, este desejo é por conta das “leis naturais” que operam em sua vida.

Claro que qualquer pessoa racional e com consciência sã vai refutar tal modo de pensar. Como alternativa, muitos atribuem a origem do senso moral ao desenvolvimento das civilizações. Portanto, pensemos: o código moral mais antigo que a História registra é o Código de Hamurabi (cerca de 1800 anos antes de Cristo). Contudo, devemos perguntar sobre a origem da necessidade de se estabelecer um padrão de certo e errado que levou algumas pessoas a criarem tal código.

Stephen Hawkins, um dos maiores físicos da atualidade, diz em seu livro O grande projeto que a origem espontânea do universo é possível por conta da existência da lei da gravidade. Portanto, devemos lembrar que lei é informação (que é demonstrada em seus consequentes processos, no caso das leis naturais). E informação também não surge de forma espontânea (para saber mais sobre isso, leia o livro A caixa preta de Darwin, do microbiologista Michael Behe). Ele diz, falando sobre a complexidade irredutível, que a quantidade de informação encontrada nas menores moléculas existentes na natureza é indício da existência de um Ser soberano que a criou e estabeleceu. Por mais que alguns não queiram reconhecer, este Ser é Deus. Você até tem direito de não crer neste fato, mas ele não deixará de ser verdadeiro por isso.

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